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O silêncio dos homens está gritando e poucos estão ouvindo. Você ouve algo?

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Começar uma matéria com texto em primeira pessoa foi a decisão que tomei depois de assistir por três vezes ao documentário “O Silêncio dos Homens”, um filme que, como seus produtores destacam, aborda as dores, qualidades, omissões e processos de mudança dos homens (resultado de uma pesquisa feita com 40 mil pessoas e meses de gravações). 

Um relato pessoal importante deve ser registrado aqui porque sublinha o que este jornalista viu no documentário produzido pelo site Papo de Homem e Instituto PdH e viabilizado pela Natura Homem & Reserva. Assisti ao filme em uma sexta-feira e no dia seguinte fui correr no parque. Um garoto de bicicleta caiu na de minha frente. Na hora, o amigo que o acompanhava o advertiu, no ato: “Não chora”. O garoto, de uns sete anos, estava todo envergonhado por ter caído na frente de todos que passavam. Alí, de perto, observando a cena, não segurei e disse: “Pode chorar, sim”. A reação dele (posso provar) foi natural. Ele mandou um sorriso para mim e saiu pedalando.

Kadu dos Anjos, líder do centro cultural “Lá da Favelinha”, em Belo Horizonte (MG), um dos entrevistados do documentário “O Silêncio dos homens”.

O meu relato e o título do documentário falam entre si. O filme dirigido por Ian Leite e Luiza de Castro revela o quanto os homens estão isolados dentro de uma sociedade da “brodagem” como eles mesmos contam. Quando um homem tem um problema sério dificilmente ele se abre como deveria, e isso não ocorre porque não tem quem ouça, sempre tem alguém (ou deveria ter). O máximo que ocorre para muitos homens é a iniciativa de contar rapidamente e de forma superficial algo que o incomoda e que ele entende que seja uma fraqueza ou incapacidade de lidar com questões profissionais, afetivas, familiares ou com seu parceiro ou parceira.

Mas o que acontece com os homens está ligado com a forma como foram criados. “Homem não chora” e “isso é coisa de menina” são duas frases muito comuns em qualquer sociedade, mas uma conta alta para se pagar começa a ser cobrada: depressão e uma série de problemas não resolvidos e que atrapalham o convívio sadio de milhares de homens. 

“O Silêncio dos Homens” é um trabalho que merece ser difundido pelo seu teor, pesquisa e entrevistas feitas em diferentes regiões do País.

Leo Piamonte (um dos entrevistados do documentário) e seus filhos; o hoje e o amanhã. (Foto: Ian Leite)

Depressão e suicídio

De acordo com um estudo do Upjohn, uma das divisões de um laboratório farmacêutico focada em doenças crônicas não transmissíveis, em parceria com a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e participação do Centro de Valorização à Vida (CVV), mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais e transtornos do humor. A depressão é o diagnóstico mais frequente, aparecendo em 36% das vítimas.

O aumento dos casos entre os mais novos e com prevalência entre os homens faz da depressão a quarta maior causa de suicídio entre jovens no país. Outras doenças que podem ser tratadas, como o alcoolismo, a esquizofrenia e transtornos de personalidade, também afetam esses pacientes e por isso afirma-se que o suicídio pode ser evitado na maioria das vezes.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o Brasil é o país com maior percentual de depressão na América Latina, chegando a 5,8% da população, o que corresponde a 12 milhões de brasileiros. A taxa é maior do que o valor global, que é de 4,4%. Igualmente maior do que em outros países, a taxa de suicídio entre adolescentes de 10 a 19 anos aumentou 24% de 2006 a 2015. A cada 46 minutos alguém tira a própria vida no Brasil. 

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